⇝ Anteriormente em Cleire Redmor: Depois da chacina no mercado - cujo eu não quis ficar lá para ver - vou atrás da minha família. Ao chegar em minha casa, eles não estão lá. Mas tenho uma ideia de onde podem estar: na nossa cabana na floresta. Para onde eu sigo? Para lá.

⇝ Continuo meu caminho pela floresta que está fresca por causa do céu nublado. Estou andando a mais ou menos meia hora. A cabana não deve estar muito longe. Será que Teddy e meus pais estão bem? Sempre há aquela pequena dúvida.

⇝ Estou perdida em meus próprios pensamentos quando minha audição de caçadora ouve passos vindos de perto. Talvez da direita. Me escondo atrás de um tronco grosso de árvore e espio: vejo a ponta de um sapato. Outro barulho... Seguido de outro...

⇝ Olho para trás novamente e vejo que um soldado está se movendo cada vez mais para perto. Ou eu mato ele ou ele me mata. Eu não vou conseguir tirar a vida de alguém... Esse cara pode ter vindo aqui sendo obrigado, apenas pela segurança da própria família. Talvez nem tenha ventade de me matar...

⇝ Pena que eu estava errada. Mais uma série de barulhos depois e uma lâmina repousa acima da minha cabeça. Que sorte, ele superestimou minha altura. Corro para outra árvore e pego uma flecha da aljava cheia. Posiciono no arco e fecho os olhos por um momento. O que eu vou fazer? Grito para o soldado:

- Pare agora ou eu atiro!
- Que bonitinho, com o que docinho? Vai me atirar pedras com um estilingue? – diz uma voz grossa de homem cujo me causa arrepios na espinha.
- Não “docinho”! Com isso!

⇝ Saio da proteção da árvore e pareço surpreender um pouco o soldado. Agora que tenho tempo, consigo ver seu rosto: barba grande e escura, cabelos desgrenhados embaixo de um capacete de guerra acompanhado de uma armadura completa. E adivinha? Ele está empunhando uma espada e tem dois machados de lâmina dupla presos no cinto. Ou seja: ele pode me retalhar se quiser. Parece bem calmo diante de mim, ele tem um sorriso malicioso nos lábios:

- Largue isso antes que se machuque criança, e então talvez nem precisarei te matar.
- Eu juro que vou atirar se você não se afastar daqui.
- Eu não tenho medo... Você não tem coragem para fazer isso.

⇝ Eu estou sentindo meu coração bater contra minha caixa torácica:

- Não subestime minha mira ou coragem.

⇝ Ele anda um passo à frente e eu outro atrás:

- Saia de perto!

⇝ Estávamos a 5 metros de distância. Quando eu vejo que ele vai começar a correr em minha direção, solto a flecha que já estava mirando na abertura frontal do capacete. Fecho meus olhos e só escuto um baque surdo. Ele caiu no chão. Abro-os e vejo bem na minha frente um homem com uma flecha minha atravessando sua cabeça...

⇝ Eu acabei de matar um soldado. Eu tirei uma vida.

⇝ Anteriormente em Cleire Redmor: Andando pela floresta a caminho da cabana da minha família eu tenho um encontro muito legal com um soldado nordestino. Tomamos um chá bem gostoso e daí eu matei ele. Coisa bem normal.

⇝ Depois de matar aquele soldado, fiquei um tempo parada, absorvendo o que aconteceu. Eu ia ser morta e isso resultou na morte de outra pessoa. Após aquele momento de reflexão eu volto ao mundo e começo a caminhar, sem olhar para nada especificamente. Meu objetivo ainda nao mudou: tenho que achar a minha família.

⇝ Em alguns minutos, nos quais eu estava fora de si, chego a cabana da minha família. Está como eu me lembrava: um casebre médio de madeira escura e telhado frágil. Bato na porta 1, 2, 3 vezes, como se fosse um código sonoro e entro. E...não há ninguém lá. Não há nada além dos poucos moveis ilhados e empoeirados naquela sala fria.

⇝ Aquela lareira devia estar acesa...naquele pequeno sofá meus pais deveriam estar sentados, abraçando Teddy. Mas não, eles não estão lá como era pra ser. Olho ao redor e tento organizar meus pensamentos de uma maneira que eu simplesmente ache minha mãe lá, sorrindo para mim. Achar Teddy me mostrando a língua como fazíamos quase todo café da manhã. Ver meu pai atiçando o fogo da lareira.

⇝ Eu MATEI para chegar aqui e não achá-los. Vou checar o resto da cabana em uma inútil e inocente esperança de que eles estivessem lá, fazendo uma brincadeira de esconde-esconde comigo, como fazíamos eu e meu irmão quando menores. Mas não, o resto da cabana está igualmente sem vida.

⇝ Então com as esperanças mortas dentro de mim eu saio para fora e olho o céu: e cerca de meio dia. Entro novamente e tiro a mochila, a aljava de flechas e o arco de minhas costas. Sento a mesa e coloco ali meu almoço: pão, geleia de uva e agua. Vou apenas lanchar e seguir viajem, em busca de mais pistas.

⇝ Fico matutando enquanto como. A trilha de pés dos quais reconheci os de Teddy realmente tinha vindo até a casa. Eles chegaram aqui. Mas não ficaram. Ou melhor...foram tirados daqui, eles não iriam sair se não fosse necessário.

⇝ Logo que saio da cabana com minhas coisas organizadas, rondo-a, procurando sinais ou pistas. Na entrada vejo marcas de resistência: pés arrastaram-se na terra. E também depois percebo as marcas de pegadas de cavalo. Eles foram levados. Acho que isso não é invasão de saqueamento. Nunca haviam levado ninguém. Talvez por isso também houve mais chacina no mercado.

⇝ Então apenas monto o quebra-cabeças como mais bem se encaixa: Eu saio de casa e a invasão começa pelo campo. Meus pais foram para a cabana assim que souberam, mas foram capturados e levados. Enquanto isso, invadem o centro do feudo, o mercado.

⇝ Anteriormente em Cleire Redmor: Enquanto me martirizava por ter matado alguém, continuei indo para o meu objetivo: achar minha família. Então eu chego a cabana, não encontro meus pais nem Teddy e descubro que foram levados. Uhul. Mais uma aventura miserável.

⇝ Ótimo, e agora? O que eu farei? Eu com certeza não vou me esconder. Acho que terei que fazer uma visitinha a base dos soldados para resgatar meus pais. E provavelmente terei que matar de novo para concluir essa tarefa com sucesso.

⇝ Já ouvi muitas pessoas que retornaram de guerras comentarem que depois da primeira vítima, é fácil matar. Mas isso me causa enjoo. Pelo menos sei que eles estão vivos. Eu chequei todo o perímetro da cabana, nada de sangue. Pelo menos lá eles não morreram.

⇝ Terei que treinar muito para conseguir ser perfeita em combate. Terei que descobrir aonde é o acampamento. Mas tudo faz parte, e sei que a jornada será de dias, a base deve ficar em algum lugar longe do principal ponto de invasão, e o feudo pode estar em uma divisa do reino, mas é o maior dentre todos os outros. Claro que escolheram nosso feudo para começar, o maior apesar de não ser o capitólio do reino, e está na divisa. Aí o resto é questão de tempo.

⇝ Bem, deixa eu esclarecer por que o acampamento principal deles não é no principal ponto de invasão: os nordestinos - com os chamamos - são espertos. Eles ficarão em uma ponta afastada e menos povoada para não ficarem expostos ao castelo. Então faram pequenas bases nas áreas tomadas.

⇝ Mas tenho uma ideia de que mandarão os reféns para o acampamento principal, o mais forte, protegido e em área de vantagem. O meu medo é que eu não chegue a tempo na base para que levaram minha família, por que logo tenho certeza de que farão a transferência dos reféns para o acampamento base.

⇝ Vou seguindo a trilha que os cavalos deixaram, que vão por entre a floresta ficando sempre atenta a barulhos. Quando a noite cai sob o canto dos grilos, paro e observo: sem luz de fogueira por perto, e a trilha dos cavalos está longe e acabar.

⇝ Escolho uma arvore favorável para dormir e subo nela. Continuo com a mochila e o arco nas costas, mas a aljava vai para outros planos. Pego sua alça e enrolo sob o galho e sobre minhas pernas para não cair durante a noite. Então coloco a aljava sobre meu colo e dou um nó na abertura com os barbantes próprios para isso, para não caírem acidentalmente flechas na hora de uma soneca.

⇝ Me enrolo em minha capa verde escura e fecho os olhos.

⇝ Anteriormente em Cleire Redmor: Nada de especial aconteceu enquanto eu segui caminho para a base onde provavelmente minha família está, e vou seguindo pegadas que cavalos deixaram para mim seguir. Hora de investigadora.

⇝ Não costumo ter sonhos nem pesadelos normalmente durante a noite. Mas acho que nessa minha mente decidiu se vigar de mim por causa disso. Abro os olhos e logo percebo que estou em um pesadelo e não na vida real: Há fogo em toda parte.

⇝ As árvores pegam fogo, a grama pega fogo e eu também estou em chamas. Mas não sinto dor. Deve estar pensando, então por que você considera um pesadelo se não estava sentindo dor? Bem, primeiramente, o clima não era dos melhores não é mesmo? Segundo, eu podia não estar sentido dor, mas a minha família estava.

⇝ Eles estavam bem à minha frente, cada um amarrado em um poste acima de uma fogueira. As chamas estavam começando a alcançá-los. E eu não podia fazer nada, eu estava presa no chão. Esse sentimento de impotência é um dos meus piores medos. Então, a imagem modifica-se.

⇝ Estou em uma cela, presa como se fosse um animal, sem nada além de palha no pequeno aposento. Há gritos vindos do corredor. Mas não são da minha família. São de pessoas sendo levadas para a execução. E eu não posso fazer nada.

⇝ Acordo num salto e olho em volta. Estou encima da árvore novamente, está amanhecendo, e eu estou na floresta. Graças a Deus não é outro pesadelo. Mas eu não acordei naturalmente, eu acordei por algo: abaixo de mim há dois soldados com uma tocha, fazendo patrulha. Mas eles me ajudam por serem descuidados e eu estar dentre muitos outros galhos de outras árvores.

⇝ Algo que noto é que raramente as pessoas olham para cima, enquanto eu sempre estou atenta as árvores, caso tenha algum arqueiro ou guarda, mas os nordestinos não colocam eles até terem certeza que a área está totalmente tomada, enquanto isso, mandam soldados fazerem patrulhas. Talvez mais perto da base eu tenha um encontro amigável com um arqueiro em cima de uma árvore.

⇝ Então, vamos a parte que os soldados me ajudam:

- Quando será a transferência dos reféns da base para o acampamento principal?
- Amanhã de manhã. O rei quer todos no acampamento principal.
- Quão longe estamos do acampamento? Estou cansado de ficar nessa coisa minúscula só fazendo patrulhas.
- Você é trouxa, Ilei. O acampamento é ao nordeste, área menos povoada e mais longe do castelo, ou seja, não iremos para lá tão sedo. Vamos tomar esse reino com calma. Lembra o que aconteceu da última vez que fomos afobados? Perdemos muitos homens.
- É, fiquei sabendo que o rei quer ser menos guerreiro e mais engenhoso. Quer pôr o barão deste feudo contra o povo. O plano é assim pelo que fiquei sabendo: chacina no mercado, pegamos reféns no campo, e o nosso rei, vai dizer que vai executar todo mundo se não nos entregarem o comando do feudo.

⇝ Oh, oh, como é? Eles querem...oh não. Volto a prestar atenção novamente:

- Pois é. Quando vai ser essa oferta de execução ou feudo?
- Depois da manhã da transferência, na outra.

⇝ Eles seguem andando, mas eu não presto atenção no resto. Tenho um dia para achar a base e resgatar meus pais. Se não conseguir, tenho mais um para praticamente atravessar o reino. Estamos no Noroeste. Ferrou.

⇝ Anteriormente em Cleire Redmor: Descubro por dois soldados trouxas que não me perceberam que meus pais realmente estão em uma base nordestina. Mas um detalhe: se eu não chegar a tempo ou não conseguir resgatá-los, eles serão transferidos para o acampamento base. E terei que atravessar o reino. Maravilha!

⇝ Depois que os soldados ficam fora de vista, desço da árvore e me organizo. Então sigo suas pegadas mais frescas do que as dos cavalos que anteriormente eu seguira. Provavelmente aqueles soldados haviam montado um pequeno acampamento de patrulha - como devem ter montado muitos outros - um pouco longe da base, por isso estavam se achando tão insignificantes.

⇝ As áreas que eles tomaram foram muitas, então teriam espaço para isso. Todos nós estávamos despreparados, sem pensar que seria mais que uma invasão de saqueamento. Agora eu não duvido de nada.

⇝ Escuto barulhos em frente e me escondo atrás de uma árvore sem folhas, olhando para cima. Sem arqueiros espertinhos à vista. Olho para o mini - acampamento montado em minha frente e vejo que tem no máximo 10 soldados. Eles podem ser muitos, mas tem várias divisões. Como por exemplo: o acampamento principal, onde está maioria dos homens; as sei lá quantas bases nas áreas de invasão – uma é aonde meus pais estão, que deve ser perto o bastante para chegar a tempo; e os sei lá quantos acampamentos de patrulha, que ficam em torno das bases.

⇝ Eu furto-os ou sigo em frente? Eis a questão. Bem, eu posso tentar furtar armas largadas nos arredores do acampamento. Ou matar todos e pegar todas as armas que quiser e puder ser interrupções. Vamos se dizer que eu preferi a primeira opção.

⇝ Não quero ser capturada ou acabar tendo que matar alguém, vou ser cuidadosa. Rondo furtivamente o acampamento e encontro algumas falhas que podem me favorecer. Os nordestinos podem ser espertos, mas são descuidados: há um saquinho com moedas largado do lado de uma barraca e outras armas que se alguém for esperto e cuidadoso o suficiente pode facilmente furtar.

⇝ Depois de captar toda a situação, vou para trás de uma barraca, e vou indo assim quando não há nenhum soldado atento aonde eu vou passar. Chego perto e pego uma faca de arremesso bem polida de cima de uma pedra enquanto seu dono está discutindo com outro homem. Quem deixou a faca lá deve ser um arqueiro, pois só os arqueiros usam essas facas de arremesso tão equilibradas. Esta pode me ser útil, sei atirar um pouco.

⇝ Pego-a e volto para trás da barraca, ninguém me percebeu. Ufa. Vou para trás de outra barraca, a que tem o saquinho de moedas. Pego-o e vou para outra. Coloco minha mão atrás de mim para me apoiar e ela entra para dentro da barraca: está furada, e por sorte não tinha ninguém dentro.

⇝ Tem várias coisas lá dentro. Mas uma me chama mais atenção: uma espada em sua própria bainha. Deus só pode estar me banhando em bênçãos. Agarro aquela espada e a puxo para fora. Percebo que todos pararam de falar...eu fui descoberta?