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Ragnarok



"Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o numero de estrelas no céu, Midgard foi alvo de uma terrível guerra. Armados com espadas misticas e coragem divina, gigantes e monstros leais a Loki travaram uma sangrenta batalha contra Deuses e os einherjar que o seguiam.

Odin, o enviado do Senhor da Guerra, continuava imerso no profundo ódio que sucumbira após todas as batalhas travadas. Enquanto Ele permanecia encarregado de enviar suas filhas, as valquírias, para recolher os corpos dos heróis mortos em combate, Loki ditava as ordens, impondo seus desígnios em Asgard e o reino dos humanos. Sentado no topo de seu trono de luz enquanto empunhava suas armas, almejava alcançar a divindade.

Vidar cansado daquela espera infindável, resolveu passar por Valhalla, para que recrutasse guerreiros mortos e espíritos naturais, os Vanas, e afrontar seu irmão. Armou-se de sua espada, vestiu uma de suas armaduras douradas e tomou a longa escadaria de mármore que levava à construção de pedra no topo de um grande morro. Ao fim dos degraus, o santuários dos guerreiros aparecia meio oculto pelas nuvens geladas, um aposento imponente, erguido por largas colunas redondas. Uma forte luz azulada cintilava em seu interior, um brilho que Vidar acreditava ser a emanação da própria divindade.

Mesmo através de seu elmo polido, que completava o conjunto da bela couraça, o rosto de Vidar era rígido e demonstrava sua vontade. Sozinho e sem seus irmãos, ele ponderara por dias a fio e agora enfim decidira tomar frente a situação, para ter certeza de que venceria a batalha. Mas o caminho ao santuário não seria facilmente vencido. Fenrir, filho de Loki, irmão direito de Hel e Jormungandr, guardava o espaço divino e não estava disposto a permitir seu ingresso. Sozinho ele bloqueava a passagem, apenas com a força de seu corpo. O lobo envergava uma armadura completa, prateada como os raios de Mani, o deus da Lua, e adornada por detalhes dourados no peito, que formavam desenhos indescritíveis no metal espelhado. Fenrir era o mais forte de seus irmãos, seu pelo negro e comprido, era cortado por orelhas que corriam à sua nuca. Se avistado por olhos humanos, poucos o reconheceriam como uma entidade sombria, não fossem seus caninos vastos, afiados como navalhas.

O vento ameno da aurora ecoou sobre a armadura do monstro e soou como apito aos ouvidos de Vidar. O visitante parou a dez metros do suposto guardião, na parte mais baixa da escadaria. Silenciosos, os dois gigantes se encararam - Vidar, forte e confiante; Fenrir tomado pelas sombras. O Deus levantou sua espada em posição de defesa, segurando a arma com ambas as mãos.

Mal nós, meros humanos, saberíamos qual o destino daquela batalha."

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O céu não é o limite

Amanheceu. Era para ser apenas mais uma manhã de outono, as folhas coloridas caindo da árvore e continuando a criar o tapete alaranjado no gramado fofinho que o Spike tanto adora. De minha janela, fiquei observando as brisas fortes que cruzavam o céu, deformando meu unicórnio de algodão doce que estava com as outras nuvens fofinhas. Tudo estava normal, e continuaria se meu buldogue desengonçado não estivesse derrubando a casa inteira enquanto vinha correndo pelo lindo carpete azul do meu quarto e pulando em cima de meu corpo dolorido.
— Calma, Spike! Minha cama não é pula pula.
Ele parecia estar feliz, o porquê não é de minha sabedoria. Simplesmente me tornei picolé de cachorro.
— Pronto, está bem, já me lambeu. Agora, para fora da minha cama! Xô!
Sinto muito por ter expulsado ele de forma tão agressiva, mas se minha mãe visse talvez seria eu quem sairia de outra forma agressiva.
Finalmente me levantei, afinal teria que arrumar toda a bagunça feita, como levantar meu abajur ou as caixas que ele derrubou.
— Tão pequeno, faz uma bagunça tão grande. — Lamentei enquanto organizava uma caixa em cima da outra novamente.
Tudo poderia ter voltado a normalidade se um envelope azul não tivesse chamado a atenção de meus olhos, não me lembro de ter visto ele antes.
Comecei a abrir, mesmo sem ter ao menos alguma ideia do que poderia ser. Dentro não havia uma carta ou algo do tipo, apenas um minúsculo pen-drive vermelho.
— O que deve ser isso?
A curiosidade falou mais alto, peguei meu notebook e coloquei o objeto avermelhado na primeira porta USB que tinha. Porém, só para reconhecer os arquivos já demorou uma eternidade, deu até tempo de eu tomar um delicioso chocolate quente.
— Vamos ver o que tem aqui.
Me confortei na cadeira, mesmo que ela não fosse a mais confortável do mundo, e comecei a vasculhar o que havia naquela pasta. De repente, o computador travou e a tela ficou toda colorida, como se alguém estivesse tentando invadir. Que sorte a minha! Isso que dá ser curiosa.
No mesmo momento, senti uma tontura que me deixou a ponto de fazer com que eu caísse no chão e aos poucos tudo começasse a escurecer até minha consciência falhar de vez.

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Abri meus olhos, aos poucos tudo começava a ter cor, porém, não o azul do carpete de meu quarto ou do assento de minha cadeira, mas um gramado verde esmeralda parecia me encarar como se estivesse vivo. Fui me levantando aos poucos, analisando o ambiente, a grama não havia fim, nem nada além do longo céu sobre a mesma, apenas um pedestal de mármore que carregava um livro tão brilhante a ponto de refletir a luz solar. Minha grande curiosidade me levou para o mais perto que pude da tal raridade, era algo extraordinariamente incrível.
No momento em que coloquei minhas mãos na capa iluminada, senti uma sensação fria invadir meu corpo enquanto minha mente parecia ter ido bem longe, não em distância, mas sim atravessado os anos para chegar até mim, desde a época dos dinossauros até um apocalipse futurístico desconhecido, tudo em apenas um único flashback.
Tudo voltou ao normal em um piscar de olhos, meu chão, minha cadeira, meu cachorro… A única coisa que realmente mudou foi o tal livro estar em cima de minha escrivaninha, e desta vez eu “acordar” ali em pé, se esse for o termo correto a ser usado. O que aconteceu? Não sei, talvez seja uma coisa que só o verdadeiro tempo possa me dizer, quando o livro resolver abrir com uma chave de formato hexagonal na qual eu nem imagino o que seja. Por que estou escrevendo essa anotação? Ela pode ser útil um dia, quando tudo me for revelado ou quando a humanidade aprender que o céu não é o verdadeiro limite enquanto existem universos.

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Diário de bordo 151.


Estava parado. Olhar fixo. Para ele, esse era um momento perfeito. Estava do lado de trás de uma janela de um submarino. Não havia som, por um momento tudo sessou. As águas com tons de azul marinho escuro realçavam as algas que ali brilhavam. Por mais alguns minutos, várias espécies marinhas estavam se aproximando. Uma medusa ficou muito próxima a ele, parecia entender todas as expressões que fazia para o imenso cenário que a janela lhe proporcionava. Ele, por sua vez, a admirava. Seu disco na cabeça, de cor laranja, lentamente se deslocava para cima e para baixo. Estava se movimentando. Quando a majestosa medusa estava quase sumindo nas profundezas do oceano, é interrompido.

– Valter?

Não existe tempo para se recompor depois do espetáculo que havia presenciado.


Ele inclina sua cabeça e olha para seu colega de trabalho e irmão, Jonas. Consegue ver cada traço de sua aparência. Cabelos negros, ao lado raspados. Seus olhos eram verdes como as algas que acabara de ver. Não sabe por que fez essa comparação com as algas, mas continua-o analisando. Estava barbeado, mas era inevitável a presença de alguns tocos grossos de cabelo que iam de seu queixo a garganta. Sua roupa era branca. Um jaleco, ele propõem. Os botões, brancos, todos abotoados. E próximo a seu peito, um bolso onde havia uma caneta azul.

– Não dá pra acreditar que alguém pode fazer mal para essas criaturas por ganancia. Que tipo de pessoa trocaria isso por dinheiro? – Falou para Jonas, enquanto olhava para qualquer lugar fixo dentro do submarino.

– Precisamos de provas concretas antes de acusar alguém, maninho. A marinha não vai cessar os testes com sonares sem provas que isso está afetando alguma vida marinha.

– Os encalhamentos com baleias nas praias de toda região não foram o bastante? – Sua expressão facial demonstra indignação.

– Logo, logo, isso vai acabar. Vai da tudo certo, quando teu irmão mais velho já mentiu para tu? – Demonstra um leve sorriso no canto da boca.

– Me deixa pegar minha lista? – Fala com um tom sarcástico.

– Tem que pedi permissão para o capitão. – Leva sua mão para testa, junta todos seus dedos e estica.

– Sei, sei. Capitão. Capitão que quase nos fez morrer por causa de uma pedra. – Começa a sorrir, está prestes a rir.

– Mas estamos vivos, não estamos? E vamos para a sala de condução para levarmos essa belezinha ao seu ponto final.


Começam a andar para sala de condução, era assim que gostavam de chamar. Antes de chegar ao seu destino, passam por um corredor. Valter consegue ver vários canos parafusados. Pelos canos, passava a pressão a qual estavam submetidos. Não queria nem imaginar oque aconteceria se caso aqueles canos começassem a rachar e se abrir. Morreriam esmagados? Sem ar? Ele não queria pensar nisto.

– Bem vindo à toca do pajé. – Fala simulando um nativo indígena.

– Vamos nos pintar e fazer cocares? – Novamente usa seu tom sarcástico para entrar na brincadeira do seu irmão.

– Quase isso. Vamos ficar sentados, comendo, bebendo e tentar não dormir. – Levanta sua mão, exibe seu polegar e da um sorriso.

– Uma festa do pijama, eu presumo. – Da uma leve risada que mostra alguns dos seus dentes.


As horas passam muito rápido. Será dia? Noite? E há quanto tempo ficariam a vagar no oceano? Esse e outros eram uns dos pensamentos de Valter.


Quase não conseguia manter seus olhos abertos. Eles piscavam repentinas vezes. Abre. Fecha. Abre. Fecha. Abre. Fecha. Decide se render ao sono. Antes de tirar um cochilo, olha para seu irmão. Está concentrado e atento para onde está levando o submarino. Então, não há tanto pânico para um simples cochilo.


Acorda com um barulho não comum. Vira sua atenção para Jonas, ele está imóvel, parece que está tentando ouvir algo. Seu coração acelera. Tenta olhar o painel a sua frente, mas não existe nada além da escuridão das águas.

– Oque aconteceu? – Pergunta em tom baixo e em pânico.

– Acho que ouvir algo. – Move sua cabeça para todos os lados buscando algum tipo de sinal.

– Algo oque? – Seu coração está quase saltando pela sua boca.

– Não, esquece, pensei que era algum animal. Não deve ter sido nada de mais.


A conversa dos dois irmãos é interrompida por um grande choque entre a embarcação e outro objeto desconhecido. As sirenes começam a fazer barulho. A sala é completamente preenchida pela cor vermelha do painel. Erro era a palavra reluzente e em destaque. Uma simples palavra que colocou todos naquela sala em aflição.

– Mas que merda tá acontecendo, Jonas!? – Eleva o seu tom de voz em consequência ao pânico.

– Eu não sei! – Fala quase sem voz.


De repente, uma mão com membranas entre os dedos, surge no vidro a sua frente. Não possuía unhas, pelos ou marcas. Não podia ser um peixe ou humano essa aparição. Logo após, é efetuado um disparo de uma lança ao submarino. A lança atravessa o vidro e penetra na pele de Jonas. Água e sangue viram uma mistura única. Valter, ainda sem reação do que acabou de acontecer, demora um pouco para sair da sala quase inundada.


Ele abre a porta e corre para uma das cabines. Era seu quarto, possuía alguns pôsteres e cartazes sobre uma baleia azul e peixes dourados. Após entrar na cabine, sabe que não tem como sobreviver a tal catástrofe. Então, aproxima-se da sua cômoda e pega um gravador.

– Diário de bordo 151. Fomos atacados por algo e eu logo estarei morto! – Se desmonta em choro, mas tenta se acalmar.


Enquanto Valter vai gravando suas últimas palavras finais, na espera que alguém encontre o gravador, o submarino lentamente vai afundando nas águas escuras repletas de criaturas inimagináveis.