O DIA QUE EU FUI EMBORA

VOCÊS ACHARAM MESMO QUE EU NÃO IRIA ME PRONUNCIAR?

Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer que meu intuito não é causar nenhum atrito, mas fazer o que ser parte da staff não te deixa fazer: ser transparente. Haverá coisas nesse texto que só os envolvidos saberão melhor do que estou falando, mas não pretendo ficar explicando todas as coisas juntamente com o nome de seus autores, que ao lerem isso aqui, lembrarão de seus variados defeitos e deslizes me parece suficiente. Não busco resposta aos meus questionamentos, a comunidade já está acostumada com verdades distorcidas ou respostas insatisfatórias, além disso sei que na maioria das vezes as pessoas não querem mudar ou aceitar seus próprios erros, é muito mais fácil formular uma resposta lacradora do que aceitar a crítica e buscar melhorar. Isto é apenas um desabafo de alguém que encheu o saco há tempos e veio agradecer por se livrar de tanta gente mal resolvida com si mesma e que claramente não quer meu bem.

Eu me lembro até hoje o meu principal motivo de querer entrar na staff: deixar de ser impotente e fazer justiça quando ela deveria ser feita; pois quando precisei dela há alguns anos atrás, ninguém fez absolutamente nada por mim a não ser pedir que eu esquecesse o ocorrido e não prestasse queixa na polícia como eu tinha dito que faria na época; mas isso é uma história de anos atrás e já perdoei os envolvidos há muito tempo, porém é engraçada a forma como a staff tenta te empurrar as coisas pela goela, estando dentro ou fora dela, mas vocês já devem ter percebido isso no próprio Staff FAQ, ver erro nos outros é sempre mais fácil.

Fiquei uns sete anos no fórum antes de me tornar staff, vi muita coisa acontecer e não poder fazer nada a respeito além de reportar, sempre gostei de tomar iniciativa das coisas aqui fora quando fosse algo que beneficiasse à todos. Eu queria retribuir o jogo por ter trazido tanta coisa boa pra minha vida (mas essa é a visão da época).

Entrei. Dia 10 de novembro de 2017 eu entrei pra equipe. Sempre dei o melhor de mim na medida do possível, já que eu tenho uma vida aqui fora, bem agitada por sinal. Criei alguns projetos mas a maioria deles sequer saíram do papel por questões burocráticas já que a Atelier se tornou empresa, e que empresa. Tem que fazer tudo em prol dela quando ela não faz nada por você. É um trabalho voluntário, me envolvi nisso porque eu quis mas me tornei vulnerável por incompetência dos outros. Se eu soubesse tudo que aconteceria depois, jamais teria me candidatado, pois o que você passa dentro da própria equipe não vale a pena nem com remuneração, quem dirá de estressar de graça, é quase masoquismo.

Meu primeiro atrito. Durante a saída que fizemos em São Paulo não cumpriram com o acordo, se vitimizaram para os outros e eu fui dada como errada. Desde aquele dia eu vi que não se pode confiar nos outros membros, que colocam uns contra os outros sim e que se você não tem os aliados certos, pode esquecer ter alguma justiça feita lá dentro, pois sempre te tiram pra errado da história.

Desde o vazamento eu me senti abandonada, eu não parecia ter o direito de questionar o que estava acontecendo; as coisas que os próprios membros da outra sub-equipe falavam a respeito da que eu participava, meses se passaram, eu não conseguia encarar direito as pessoas porque várias as vezes que tentei me pronunciar parecia que tentavam me calar, independente do assunto. Foi um terror, eu vivia com medo, a Internet se tornou algo perigoso de uma hora para outra e se eu falasse qualquer coisa poderia ser penalizada para o resto da vida sobre algo que sequer era culpa minha, ter opinião é perigoso mesmo. Nos últimos dias tenho tido essa mesma sensação de terror, mas é mais constante, não adormece. É medo de morrer. Por ser quem eu sou, por ter voz. Não é só na equipe que não posso opinar. Haviam várias reclamações a respeito da Galaktine, seguíamos ordens de alguém que não cumpria suas próprias imposições, porém mesmo após sua saída, continuamos a seguir ordens de um outro ditador que também muito falava e pouco fazia, as coisas não devem estar muito diferentes agora.

Levei um pé na bunda. Meu fim de relacionamento com outro membro da equipe se tornou um grande abismo, as críticas que recebemos e as que descobrimos no vazamento me apunhalavam pelas costas, achava aquilo tudo ridículo quando foi exposto, mas estavam certos nas suas críticas em relação a isso pelo menos. Eu não me sentia confortável com a presença dele ali e talvez seja culpa minha nunca ter dito isso pra ninguém, mas eu não confiava mais nos outros membros, como seria capaz de me abrir dessa maneira com alguém? O bloqueei e me afastei por uns dois meses tentando me recompor, descobri depois que fui difamada e dada como vilã da história em outros grupos de discord, não me surpreendeu. Voltei às ativas por pressão, porque estava inativa há muito tempo e não queria sair, era torturante estar ali, mas eu sou teimosa e estava decidida a ficar até o fim, mesmo que eu já tivesse percebido que não me fazia bem estar naquele ambiente. Era até engraçado no meio de uma conversa da equipe ter mensagens bloqueadas, mas era melhor daquele jeito, só lia o realmente necessário.

Perdi minha melhor amiga. Há poucas pessoas que eu defenderia com minhas garras e dentes se necessário dentro desse jogo, uma delas me decepcionou muito. Não é normal você falar que ama alguém e buscar somente quando precisa dela, nos últimos meses não houve nenhuma conversa, eu cansei de insistir em quem já não faz questão. Mas não foi a única que me decepcionou ali dentro, na verdade.

Com o passar do tempo minhas prioridades foram mudando, comecei a almejar coisas que para serem alcançadas tomaram meu tempo livre, afinal seria aquilo que me ajudaria a ser alguém. Por muito tempo eu gostei de ser da equipe por me sentir parte de algo, mas de uma hora para outra, devido à vários acontecimentos já citados, me senti como uma estranha, como se minha presença fosse evitada no chat, pois tudo que eu postava ninguém interagia, era como se ignorassem tudo que partisse de mim. E não pareciam ser poucos os que se sentiam desconfortáveis com a minha presença.

Os grupos se tornam visíveis quando comparamos as "MP's de aniversário" enviadas anualmente, onde quem tem ranço do outro não se dá trabalho em escrever mensagens de aniversário. Não estou aqui para informar quantos são na equipe agora pois seria info leak e prefiro me manter no fórum para ver o feedback da comunidade quanto à isto (mesmo que sem postar nada), apesar do número considerável a diferença entre os outros foi discrepante, fora todos receberem na data e eu alguns dias depois, como se ninguém tivesse lembrado, como se eu fosse menos importante do que os outros.

Começamos a recrutar novos sentinelas. Me vi um pouco mais livre dos meus deveres que eu já não estava mais tão disposta a fazer, vi como uma desculpa pra ficar longe de tudo, entrava no chat pra ver o que estava acontecendo e me distrair um pouco quando o movimento baixava no serviço.

Tomei minha primeira advertência. Que eu deveria ter cuidado com a forma que expressava minha opinião. Rebati e questionei, não estavam totalmente certos mas eu também não estava totalmente errada, mas cedi, pois pelo menos naquele contexto estavam mais certos do que eu. Mas eu lhes pergunto: se grandes artistas, empresários, escritores, pessoas realmente importantes lá fora expressam livremente suas opiniões, porque eu tenho que me manter calada? Qual a real diferença que faz uma sentinela querer ter voz e falar o que pensa? Falar o que todo mundo que não faz parte dessa censura já está dizendo? Esqueci completamente o peso que ser staff deixava nas costas, o gosto é amargo e duro de engolir. Eu fazia o que era preciso para não sair do círculo social que a equipe proporcionava já que não sou boa em fazer amigos (apesar de não relevar a maioria lá dentro), de fato não passava de uma zona de conforto, que na verdade não tinha nada de confortável, ser staff é sinônimo de abrir mão e muita coisa, inclusive da sua liberdade de expressão e capacidade de opinar, já que as pessoas que pensam diferentes são claramente mal vistas.

Me senti numa prisão, sem voz. Minha opinião não podia ser dita, a tal empresa me atrelava a correntes, minha forma de expressão era ofensiva, mas vi várias pessoas repetindo coisas até piores, medidas não sendo tomadas, mas eu era staff, tinha que ser modelo... pra que mesmo? Soa surreal representar uma empresa dessa forma: porque eu tinha que me responsabilizar por tanta coisa se nada foi feito por mim na época do leak? Não fizeram nada por ninguém, os ex membros da equipe souberam do ocorrido por fofoca, pois a empresa sequer se deu o trabalho de avisá-los.

Não me importei. A equipe deixou claro que no momento não tenho condições de exercer um cargo público mas que aquilo não era um adeus, quando claramente sabemos que é, há falta de transparência até em um adeus que eu fiz questão de dar às pressas quase agradecendo ali mesmo por terem por mim o que eu nunca tive coragem de fazer. Sair da staff depois de quase um ano te tira um peso das costas, é como respirar com os pulmões bem forte e perceber que eles tem mais capacidade para o ar por não estarem mais contraídos pela angústia. Você só percebe que o ambiente te fazia mal quando sai dele, se livrar de pessoas que fingem querer o seu bem quando na verdade não ligam para suas vitórias pessoais, algo claramente visível pela quantidade de feedbacks positivos quando alguém disse que estava se mudando e quando eu disse que estava dando meu primeiro passo rumo ao meu sonho.

Fiquei por mais tempo do que imaginei que ficaria, porque há usuários pelo qual valia a pena estar ali, mas nada paga o preço da liberdade que eu perdi. Durante minha jornada como sentinela da comunidade, muita gente me decepcionou e eu não sabia porque do nada começaram a não gostar de mim, se diferente da maioria eu sempre fui a mesma, não me sentia superior a ninguém. Alguns sabem ser bonzinhos publicamente melhor do que quem realmente é, já que ser staff e interagir no chat é sinônimo de despertar em si mesmo a sua pior versão que você sequer sabia que existia, o ambiente é propício a isto pois a grande maioria dos membros é tóxico, vi gente boa falar coisas horríveis dos outros.

Hoje, cerca de um ano depois, eu continuo impotente, mas não por não poder tomar atitude com o que acontece no fórum, mas por não poder ser eu mesma por um maldito nick de cor diferente. Foi uma troca, bem injusta por sinal.

A própria atelier recentemente declarou que está aprendendo com os próprios erros, após mais de oito anos com os jogadores martelando na mesma tecla, avisando sobre as decisões que tomavam, mas se nem dentro da equipe tive voz quando opinava sobre o rumo que tomavam, o que dirá quando me expresso externamente em público. Não os culpo tanto assim por demorarem a ouvir o que temos a dizer, pois a staff não aceita nenhum tipo de crítica construtiva até hoje, tanto internamente como externamente, ideologias contrárias são motivo de desprezo e te isolam de uma forma claramente visível, que apenas lendo as pessoas se despedindo de mim e dos outros membros, percebe-se uma diferença (comparem o discurso dos staffs diante da saída de outros membros comigo, é clara a diferença em quem fará mais falta). Eu que venho lutando contra o fascismo e vi isso dentro da equipe, que se acha superior por ter um cargo em um jogo virtual.

Quando outro membro tentou sair da equipe por vontade própria teve intervenção de administrador, porque claro, alguns são somente números, não incentivam favoritismo, mas ele existe e várias vezes não parte dos voluntários, mas por quem deveria ser o exemplo dos exemplos.

Fomos vilões durante o leak, mas é que não podemos falar nada fora da equipe, a única forma de se expressar era através daquele chat e as vezes até ele era contra liberdade de expressão sobre alguns temas, mesmo que o ambiente seja claramente tóxico. Eu quis romper isso, porque é injusto, mas já tinham me calado há muito tempo e eu demorei a perceber. A revolução começa na gente, quando questionamos ao invés de seguir ordens. E eu claramente questiono demais, penso demais e isso parece ser um defeito quando não é.

Errei muito, mas acertei mais ainda. Eu saio de cabeça erguida porque fiz um trabalho bem feito, apesar de não deixar o legado que queria: não treinei novos sentinelas por falta de tempo, paciência e interesse; não consegui levar projetos para frente; não levei tanta gente no lado esquerdo do peito como achei que levaria; criei mais nojo do que afeto pela maioria dos membros da equipe; descobri quem eu amava realmente é. Tem gente que não gosta de mim e vai comemorar minha saída (e eu comemoro com vocês, meus amigos!), mas vejam bem, mudanças são necessárias pra nos fazer crescer e insistir em algo que só me fazia mal era onde começava o retrocesso pelo qual eu tanto venho lutando contra, se eu estou saindo hoje, é porque amanhã eu tenho algo muito maior a fazer. E agradeço o conselho de não voltar nunca mais, pois não pretendo mesmo, pois sei da segregação que há lá dentro e não faço questão de fazer parte de um grupo que te faz ser alguém ruim. Depois de oito anos e meio, satura, enche o saco, fica repetitivo e sem graça. Você percebe que é melhor assim, que há males que vem para o bem... Só que há vezes que os males não são males.

Deixo aqui uma boa sorte aos novos sentinelas, vocês vão precisar. Um obrigado à equipe pelo voto inicial de confiança. Um adeus pra quem eu vou levar pra sempre no coração. Um soquinho pra quem gostava do meu trabalho aqui e realmente lamenta minha saída. E um beijo pra quem me odeia, porque eu provavelmente odeio de volta e não podia falar nada.

Sair da equipe? Deus me livre, mas quem me dera.

Geladeira de desenhos <3

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