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Então, este é o tópico da minha nova história. Eu estava pensando se iria compartilhar ou não, mas como eu já havia feito a capa dela do Wattpad e revisado o texto já escrito, pensei: por que não? Qual é o mal? Quero que saibam que eu provavelmente vou mostrar uma demora em lançar capítulos pra essa história. Motivos? Bom, Linear é ainda o meu foco principal; eu logo vou ficar mais ocupada e partir numa viagem, e, por último... porque eu sou preguiçosa. Sim. Muito preguiçosa. Agradeço desde já a qualquer um que use de seu tempo pra ler e comentar, sério, significa muito pra mim. Críticas também são muito especiais, já que é muito difícil melhorar sem elas. Certo, chega de falar... vamos ao que eu vim aqui pra fazer. A história se passa num mundo fictício — o qual iguala-se ao nosso em vários aspectos —, seu país de foco sendo os Povos Congregados do Sudoeste. Há algumas décadas, vários países entraram em uma guerra com efeitos devastadores para a maioria, porém quem recebeu o chumbo grosso de fato foram os Povos Congregados, o único país atacado pela arma biológica R36, um vírus desenvolvido pelo homem. O vírus é letal. Seus sintomas? Devastadores. O país foi então isolado do resto do mundo numa tentativa desesperada de conter o contágio, selando o caos do lado de dentro. Demorou um bom tempo para o país voltar a andar em seus próprios pés; o esforço das pessoas para sobreviver foi incrível, e ele compensou. Quando o governo finalmente se reorganizou, depois de um bom tempo, acabou por ser apenas uma entidade a qual mirava apenas em fazer o melhor para a população, garantir sua sobrevivência... mesmo se fosse necessário sujar as mãos para isso. Créditos, notas e agradecimentos: — a imagem acima pertence a alguém, mas sinceramente não sei quem é; — a maioria dos banners nesse tópico foram feitos por Mariguimares (muito obrigada por isso, sou horrível com banners); — o pessoal da minha tribo (aquele bando de gente deliciosa, nham) merece uns abraços de fazer os pulmões fugirem pela boca. — Sim, mãe, eu sei... — comentou Catarina, revirando os olhos. Sua mãe olhou para a garota com um pequenino sorriso. — Bom, meu trabalho é te lembrar dessas coisas. Me deixe ser uma boa mãe, garota! — brincou sua mãe, olhando para ela por um momento. Catarina sorriu de volta; — Enfim, filha, eu só quero que você se divirta lá... A menina desviou os olhos de sua mãe por um momento, olhando para a estrada noturna iluminada de forma bonita. Seus olhos se arregalaram. Ela teve tempo apenas de gritar pela sua mãe antes de seu carro ser destroçado. Sua boca estava seca. A cabeça doía insistentemente, assim como o resto do corpo; Catarina abriu os olhos lentamente, piscando várias vezes para afastar a neblina que encobria-lhe os olhos. Olhou ao redor, grogue; estava sentada em seu assento e o cinto de segurança parecia afundar estranha e dolorosamente em seu peito. Mãe? Algo estava errado; sua mãe parecia pender debilmente do assento, presa pelo cinto. Catarina umedeceu os lábios e pigarreou, chamando pela mãe em voz alta repetidamente; a menina sacudiu sua mãe, agora numa tentativa desesperada de acordá-la. Foi nesse momento que notou alguns detalhes aterrorizantes: a janela trincada atrás de sua mãe mostrava-lhe o céu negro, como se a garota estivesse deitada no chão. E sua mãe... Havia sangue, havia muito dele. Catarina balançou a cabeça e arquejou, encolhendo-se, mal percebendo a própria dor antes de apagar outra vez ao som de sirenes distantes. Respirou fundo, tentando prestar atenção nas vozes apressadas ao seu redor. Sentia estar movendo-se, porém deitada; abriu os olhos, entretanto sua visão estava realmente nublada; via apenas vultos ao redor de si, gritando uns para os outros. Então um deles aproximou-se do rosto da garota e disse algo num tom apaziguante: — Nós vamos cuidar de vocês. Eu juro. E então o mundo descoloriu-se novamente. Desta vez, os olhos de Catarina abriram-se brevemente, apenas por tempo suficiente para ela notar que desconhecia o lugar onde estava e entreouvir algumas conversas: — Nós precisamos de mais sangue B-, agora! A garotinha... O U.D. não tem mais nada...? — Não... o I.S.C. deve... Catarina ignorou com desinteresse a conversa a qual escutava apenas em partes e ergueu o braço, confusa ao sentir uma dor miníma, porém desconfortável. Como eu vim parar aqui...? Havia um gosto metálico em sua boca; sua garganta parecia ter sido arranhada por um gato feroz. Ela abriu os olhos lacrimejantes e seu corpo dobrou-se repentinamente em um acesso de tosse, fazendo-a tapar a boca com a mão. Sua mão ficou estranhamente molhada; Catarina afastou-a lentamente, apenas vagamente reconhecendo o líquido escarlate que escorria por entre seus dedos antes de voltar a domir. Sangue. O que está acontecendo comigo? Homens de trajes laranjas extravagantes e uma máscara. Isso foi o máximo que a garota conseguiu notar das pessoas que a examinavam, porém pôde sentir o pesar no ambiente. — Positivo. Esse momento desperto foi o menor de todos os outros até então, porém foi aquele que selou o seu destino. Catarina abriu os olhos lentamente uma vez mais, sentindo seu corpo ser cuidadosamente solto no chão. Olhou para o lado, vendo um vulto em um traje laranja esquisito afastando-se. Ela tossiu para livrar-se do sangue no qual estivera engasgando-se por algum tempo e tentou chamar pela figura, sua voz saindo como apenas um mero sussurro. Não tinha forças para mexer-se ou protestar; ficou apenas ali, largada no asfalto escaldante de uma cidade deserta, seu corpo inteiro ardendo e coçando. Mais uma vez, não permaneceu desperta por tempo o suficiente para ligar os pontos e perceber o que estava acontecendo. — E foi assim que começou, simples e rápido — concluiu a explicação, checando os canos de sua espingarda com falso interesse, como se a história não significasse nada para ela. Suspirou, porém seu suspiro passou despercebido sob o barulho de grilos e fogo a crepitar. — Então, você está contando a sua história, certo... Helena? Era Roberto bancando o espertinho de novo. Talvez ele devesse cuidar dos próprios problemas; Helena lançou-lhe um sorriso maldoso antes de recarregar sua arma. — Se você me conhecesse tão bem quanto alega conhecer, logo vai saber que... — pausou, olhando para o céu estrelado como se fosse confessar algo; a luz das chamas brilhou assustadoramente na mancha rosada a qual lembrava tecido em processo de cicatrização em sua bochecha — ...não, seu idiota estúpido. Vocês pediram pra eu contar como o país foi pro inferno pela milésima vez só pra rirem do sofrimento alheio de noite, e eu estou contando. Então, pare de falar merda. Entendidos? Ele apenas riu baixo e balançou a cabeça, levantando-se da grama alta e afastando-se pela escuridão. Helena acompanhou-o com seus olhos azuis até que o perdesse de vista, vendo os outros irem logo atrás; finalmente jogou a espingarda no chão — junto de suas luvas — e enterrou o rosto nas mãos calosas, balançando-se para frente e para trás num ritmo ansioso porém consolador. Que inferno, de fato. — Importante: ► Link da história no Wattpad — Capítulos: ☼ Prólogo I (presente no tópico) ☼ Prólogo II (presente no tópico e comentários) ☼ Capítulo 1 — "Mantenha-se acordada" (presente nos comentários) ☼ Capítulo 2 — "Sejamos realistas" (presente nos comentários) ☼ Capítulo 3 — "Soluções" (presente nos comentários) Dernière modification le 1454546340000 |
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aff q saco fanfic cliche pode leva modera aff... ¬¬ --' O.o- |
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ebanyle a dit : admite que vc me quer hta. q. |
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Vikavilewell a dit : quero |
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ebanyle a dit : ( ͡° ͜ʖ ͡°) eu sei juro que não é chat, modera |
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ta prólogo 2 curtinho, mas válido — E foi assim que começou, simples e rápido — concluiu a explicação, checando os canos de sua espingarda com falso interesse, como se a história não significasse nada para ela. Suspirou, porém seu suspiro passou despercebido sob o barulho de grilos e fogo a crepitar. — Então, você está contando a sua história, certo... Helena? Era Roberto bancando o espertinho de novo. Talvez ele devesse cuidar dos próprios problemas; Helena lançou-lhe um sorriso maldoso antes de recarregar sua arma. — Se você me conhecesse tão bem quanto alega conhecer, logo vai saber que... — pausou, olhando para o céu estrelado como se fosse confessar algo; a luz das chamas brilhou assustadoramente na mancha rosada a qual lembrava tecido em processo de cicatrização em sua bochecha — ...não, seu idiota estúpido. Vocês pediram pra eu contar como o país foi pro inferno pela milésima vez só pra rirem do sofrimento alheio de noite, e eu estou contando. Então, pare de falar merda. Entendidos? Ele apenas riu baixo e balançou a cabeça, levantando-se da grama alta e afastando-se pela escuridão. Helena acompanhou-o com seus olhos azuis até que o perdesse de vista, vendo os outros irem logo atrás; finalmente jogou a espingarda no chão — junto de suas luvas — e enterrou o rosto nas mãos calosas, balançando-se para frente e para trás num ritmo ansioso porém consolador. Que inferno, de fato. tbm aqui wattpad Dernière modification le 1454300040000 |
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Nuss 'O' amei vou acompanhar :* |
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Najarageral a dit : obrigada ♥ |
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Cap. 1 ~ "Mantenha-se acordada" Helena chutou as cinzas remanescentes da fogueira ao raiar do dia; olhou para o céu rosado do alvorecer e esfregou os olhos sonolentos, cansada. Recolheu suas luvas sem dedos e a espingarda; virou-se para o outro lado para apanhar a sacola de lona enquanto chamava os companheiros para ajudarem a erguer acampamento. Parou no meio da frase, esfregando o rosto com apenas uma mão e socando uma árvore com a outra, sem importar-se com a dor nos nós dos dedos. Helena não dormira. Jurava não ter nem mesmo fechado os olhos. Como foi que uma das mochilas de suprimentos, a mais completa, sumiu? Haveria sangue, haveria um legítimo banho dele agora, e a culpa era dela. — Oh, você acordou. Catarina olhou cuidadosamente na direção da voz; seu portador era um homem na casa dos trinta anos, com uma barba por fazer, separado dela por uma parede de vidro. A garota esfregou os olhos, os quais doeram terrivelmente ao fazê-lo. Sentou-se, desvencilhando-se dos lençóis brancos que cobriam-na e analisou os arredores. Vestia roupas compridas e claras e estava num cômodo de aspecto limpo cujos únicos objetos eram a cama hospitalar em que estava e uma cômoda branca; o pequeno quarto era cercado de vidro, como uma daquelas salas de isolamento em um hospital. Além do vidro arranhado havia pessoas quem demonstravam diferentes emoções, porém a garota estava confusa demais para tentar ler todas elas; além disso, seu corpo inteiro doía e sua respiração produzia chiados esquisitos. — Menina, escute aqui! Era uma nova voz, mais grossa que a última; era também um homem, e ele deu batidinhas no vidro para chamar-lhe a atenção. Catarina virou o rosto para ele lentamente em virtude de sua nuca dolorida, apertando os olhos para enxergar melhor. Pensava que a voz soara meio aborrecida, mas não ligou muito. — Fale como você ficou doente. Rápido — ordenou, encarando-a impacientemente com seus olhos castanhos. Catarina levou a mão à testa, a qual estava quente. Doente? Eu achava que estava... Então lembrou de tudo. Sua respiração acelerou enquanto a menina tentava segurar o choro, os pensamentos sombrios fazendo-a desesperar-se. — Vamos logo, a gente não tem tempo pra essa merda! Ela encolheu-se, olhando para o portador da voz com certo ressentimento; havia lágrimas em seus olhos. Estava assustada. Era apenas uma garotinha; garotinhas não deveriam encontrar-se neste tipo de situação sob circunstância alguma. Repentinamente, o homem quem falara com ela primeiro empurrou o outro para o lado levemente e voltou-se para ela com cautela. Começou a falar com a voz mansa: — Desculpa, mas é importante de verdade que você fale como ficou doente. A gente precisa saber se estamos esperando mais pessoas aqui. Acha que pode fazer isso? Catarina enxugou suas lágrimas e cruzou os braços. Realmente sentia-se mal... Supôs que era assim quando se ficava doente de verdade; nunca pegara mais que um resfriado. — Eu não sei como — murmurou, sua voz saindo um pouco mais rouca do que planejara. — Tudo bem. Aconteceu algo incomum nas últimas, digamos... vinte e quatro horas? — perguntou, ainda com o tom calculado de cautela em sua voz, como se cuidasse para não espantar um gatinho assustado. Catarina estremeceu e engoliu um soluço; precisava ser forte. Sua mãe não ficaria doente também, ficaria? Tomara que não. — Eu estava saindo de carro com a minha mãe. Aí nós batemos contra um outro carro. E... não sei quantas pessoas tinha nele. Eu lembro de acordar no hospital depois — seu discurso fora um pouco demorado, porém ela teve certeza de incluir todos os detalhes os quais julgava necessários. Então, adicionou rapidamente: — Minha mãe vai ficar bem? A voz rude começou a falar algo em tom sarcástico, porém seu colega interrompeu-a. As outras pessoas não pareciam contentes, também. — Não sabemos. Sinto muito, certo? — uma pausa — Sua mãe tem o mesmo tipo sanguíneo que o seu? Catarina afirmou com a cabeça; então ele afastou-se com um suspiro, correndo a mão pelos cabelos castanhos. O grupo de pessoas tornou-se uma rodinha tumultuada e começou a emanar várias vozes em tons diferentes, como se estivessem discutindo. Catarina tossiu fracamente, tentando entender algo, os olhos arregalados. O que aquilo significava? Ela ficaria bem? E sua mãe, o que seria dela? Então a rodinha se desfez e todos voltaram a observá-la, o homem de antes com um olhar de pena. A mulher ao lado dele foi quem falou dessa vez, parecendo abalada: — Nós vamos te dar uns remedinhos, tudo bem, querida? Não sabemos se isso vai te deixar boa, mas temos... certeza de que é sua melhor chance, sim? — disse, forçando esperança em suas palavras. Ela tremia, suas mãos pálidas contra a parede de vidro. Não parecia ter tanta certeza. O homem de cabelos castanhos pôs a mão em seu ombro, acariciando-o de leve. Catarina balançou a cabeça em afirmação, sua voz saindo fraca: — Tudo bem. Ela riu no quarto mergulhado em sombras, seus ombros sacudindo. — Ah... Sim... o corvo-unicórnio. Muito bom! E riu mais, olhando para o vazio. A mulher quem falara com Catarina anteriormente agora roía as unhas nervosamente, andando ansiosamente pelas acomodações que dividia com seu marido — o homem dos cabelos castanhos — inquieta. Ouviu a porta abrir e olhou brevemente para lá, vendo Jeremia entrar; então, apenas continuou seu ciclo nervoso. — Você vai furar o chão, Mia. Ela parou e olhou tristemente para ele, quem suspirou. — A garotinha está alucinando. — contou com suavidade, então aproximou-se e segurou as mãos de Milena nas suas, acrescentando com cautela: — Eu não acho que ela vá conseguir. Mia aumentou seu aperto nas mãos dele, murmurando que a menina precisava conseguir. Sim, ela precisava. Jeremia puxou sua amada para junto de si, afagando-lhe as costas; ambos deixaram o silêncio preencher o cômodo. Apesar das alucinações ocasionais distraírem-na, Catarina estava consciente da dor que sentia; ela revirava-lhe o estômago, fazendo-a contorcer-se. Sua febre parecia ter estourado os termômetros, seus olhos ardiam como se ela tivesse brincado de "sem piscar" por tempo demais. E, ah, quem dera fosse só isso. Ela tossia com cada vez mais sangue e violência, seu corpo contraindo-se. Não pensou por um momento no futuro imediato; limitou-se a viver no momento, sem pensar muito em tudo o que acontecera naquelas poucas horas — as alucinações e a dor não permitiam-lhe refletir. Talvez fosse melhor assim. Afinal, havia muito em que se pensar, e a dor emocional pode ser realmente dolorosa. também no wattpad Dernière modification le 1454353200000 |
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Querooo mais capsss o// |
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Najarageral a dit : :3 já to misturando um no caldeirão haushua |
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cap. 2 - "Sejamos realistas" Apesar do humor geral do grupo estar sombrio naquela noite, Helena continuou a contar a história, por vezes perdendo a atenção enquanto encarava o nublado céu noturno ao longe. Quando sua voz acabou o trecho daquela noite, o silêncio reinou; ouviam-se apenas os grilos e a fogueira insistente. Então, Lola cortou o silêncio, erguendo o graveto com o qual estivera atiçando o fogo: — Amanhã. Amanhã nós vamos ter de repor — ela encarou o graveto chamuscado, a luz do fogo parecendo queimar em seus cabelos louros semelhantes a palha —, vocês perceberam isso? Sim? Seus lábios tornaram-se uma linha fina e ela jogou o graveto às chamas com impaciência, levantando-se e ficando de costas para os outros. Parecia inquieta; todos eles o estavam, no entanto. Helena forçou-se a encarar as costas da outra, sentindo a culpa e o silêncio pesado reverberarem por todo seu corpo, mal mexendo-se ao ser estapeada violentamente. Esperava mais que isso, na verdade. Lola enfiou seu dedo indicador bem na frente dos olhos da companheira, começando seu discurso e gesticulando para todos os lados furiosamente: — Você! Você é uma inútil, cacete! Quando você assume um turno de guarda, você guarda. Estou sendo clara? Provavelmente um de nós vai morrer na cidade amanhã, e eu quero que saiba que a culpa é sua. Cento e cinquenta por cento sua! — ela ergueu a mão como se fosse atingir a incompetente de novo, porém apenas saiu pisando duro, irritada. Helena não mexeu um músculo, nem mesmo pra limpar o cuspe de Lola de seu rosto. Ninguém mais manifestou-se; talvez fosse por concordarem com Lola. E tinham razão em fazê-lo: a probabilidade de um deles perder a vida na expedição do dia seguinte era incrivelmente alta. Catarina abriu os olhos lentamente, logo em seguida esfregando-os; tivera um sono bom, pesado. Sentou-se, olhando para os pés descalços; havia uma espécie de bolhas avermelhadas neles, assim como nas outras partes visíveis de seu corpo, porém aparentavam estar em processo de cura. Aquilo devia ser um bom sinal, não? Então, tossiu. Por um momento, assustou-se com a possibilidade de sentir gosto de sangue novamente, porém logo notou que fora um tossido seco. Sorriu de leve. Será que isso significava que ela ficaria bem de verdade? Alguém bateu no vidro suavemente. — Você dormiu bastante, menina. Nem acordou quando fizeram exames em você — disse a voz. Era uma mulher, parada sozinha no corredor além da vidraça. Parecia cansada, possuindo inclusive olheiras; segurava um copo plástico nas mãos e sua postura era calma. Catarina pulou da cama, sentindo-se ainda um pouco fraca — afinal, fora acometida de uma doença esquisita e ainda possuía alguns ferimentos levemente sérios provenientes do acidente —; aproximou-se do vidro e posicionou suas mãos contra ele, esperançosa: — Eu estou bem? A mulher pareceu pensativa por um momento; tirou uma mecha de cabelo escuro da frente dos olhos e encarou a menina. — Vai ficar — respondeu; era uma resposta curta e simples, porém parecia esconder algumas coisas. A garota sorriu, seus olhos ainda acesos com uma fagulha de esperança; ainda havia outra pergunta importante. — E a minha mãe? A outra desviou os olhos por um momento e tomou um gole da bebida escura em seu copo — café puro, assumiu Catarina —, parecendo pensar em uma boa resposta. — Nada até agora. — Isso significa que ela não ficou doente, certo? Ótimo! — comemorou, suspirando com certo alívio. A moça deu de ombros e desviou o olhar novamente, aparentando desconforto. Então, mudou de assunto com certo nervosismo na voz: — Então, 'cê tá afim de sair da quarentena? A garota fez que sim com a cabeça, ansiosa. Poderia ir para casa! Claro, era muito bom que aquelas boas pessoas tivessem-na deixado melhor, porém não via a hora de sair daquele lugar desconhecido. — Como assim, eu não posso ir embora? Catarina estava pálida, assustada. Por que aquelas pessoas queriam segurá-la ali? Jeremia suspirou e esfregou os olhos, apoiando os cotovelos na mesa. A mulher quem a tirara da quarentena, Lilian, apenas olhava para outro canto enquanto bebia seu café, como se o assunto não a incluísse; as outras pessoas à mesa agiam de maneira parecida... exceto Mia. Ela parecia nervosa, triste e desesperada ao mesmo tempo, secretamente segurando a vontade de abraçar a garotinha e confortá-la. — Querida, é complicado... É que... — Você pegou R36 e o governo te mataria pros outros não descobrirem que essa coisa ainda está por aí. Pronto, falei — concluiu a voz rude, Mateus, um dos adultos com quem ela já falara. Catarina ficou olhando, atônita. Tentou processar aquelas palavras, paralisada. Começou a gaguejar, dizendo que R36 havia sido erradicada, que o governo nunca mataria ninguém. Sua voz quase não saía; então, simplesmente ficou quieta, deixando as lágrimas rolarem por seu rosto enquanto Mia segurava suas pequenas mãos, preocupada. — Ah, e nós também temos que monitorar os efeitos colaterais dos 'remédinhos'. Nada demais — continuou Mateus, dando de ombros. Jeremia lançou-lhe um olhar sombrio, como se mandasse-o calar a boca. Catarina já não conseguia mais prestar atenção nos rostos ao seu redor; estava sucumbindo ao pânico, caindo aos poucos no abismo emocional do o-que-já-foi, o-que-poderia-ser e do o-que-nunca-mais-será. Era um lugar perigoso para se cair, isso é verdade. Não podemos julgá-la por chorar como a garotinha que era. Ela estava encarando o prato plástico de comida em sua frente, imóvel, sem nem considerar a possibilidade de comer. Nunca iria para casa novamente. Nunca, nunca, nunca. Helena encarava as chamas dançantes de forma sombria, sem nem considerar a possibilidade de dormir. Não naquela noite. também no wattpad Dernière modification le 1454383860000 |
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Najarageral a dit : ksapoks consegui. 3~ Soluções O grupo todo estava de pé e pronto para partir antes mesmo de serem chamados pelo guarda do último turno, Reginaldo. Helena suspeitava que, assim como ela, os outros mal haviam dormido; era compreensível. Como de costume, separaram-se em duas equipes: uma de duas pessoas e outra de três — assim, não seriam os cinco chacinados caso fossem pegos —; a de duas saquearia casas e a de três, estabelecimentos. Foi uma surpresa não terem posto Helena na equipe de maior risco, porém, claro, ela não reclamou. Os dois grupos trocaram olhares por um momento, como se tentassem gravar o rosto uns dos outros; então, a voz pesada de Roberto soou: — Estaremos todos de volta aqui antes de anoitecer, entenderam? Com sorte, estariam. Algumas horas depois, Lola e Helena pararam em meio ao matagal dum terreno baldio, analisando a casa em sua frente. — Parece empoeirada o suficiente pra você? — perguntou a loura com um toque de desprezo na voz. — É... — murmurou Helena, olhando a casinha branca. Queria não ter ido com a outra garota, no entanto, seria ruim ter contestado. — Tudo bem, já que você tem olhos de águia. Nós vamos entrar — concordou Lola, começando a andar entre a grama alta. A indireta da outra doeu até os ossos de Helena, quem a seguiu atentamente, a espingarda a postos. — Sabe, você deveria comer isso. — disse Jeremia, apontando com seu garfo para o prato de Catarina — É... muito bom. Então, vendo que ela não o faria, simplesmente balançou a cabeça e deixou o assunto de lado. Apesar de ser professor, ele não aparentava levar muito jeito com crianças. Estavam sentados à uma das várias mesas longas no que parecia ser um salão; além das belas e enormes janelas era possível ver a extensa cidade abandonada, seus prédios sujos e velhos e o lixo sendo carregado pelo vento. Havia também um grande piano preto num dos cantos do salão, porém Catarina não estava interessada em nada disso. Ela queria ir para casa. Mia inclinou-se um pouco na direção dela, aparentando preocupação. — Querida, pode ser que você não sinta fome agora, mas depois você vai sentir. Então, acho que seria bom comer o que tem, certo? — perguntou com suavidade e um sorrisinho, logo voltando ao seu próprio almoço. Catarina encarou seu prato tristemente e começou a comer, bem devagar. Percebeu que, a partir daquele dia, sentaria naquele banco para sempre; ergueu os olhos e analisou o ambiente mais a fundo com certa melancolia. Havia papel de parede gasto e esburacado em todas as quatro paredes; era vermelho com pequenos detalhes em dourado. Antiquado. Lustres iluminavam-nos com uma luz amarelada e bonita; apesar de haver grande quantidade de mesas, as pessoas presentes ocupavam, em média, quatro. Catarina estava sentada numa mesa com os adultos quem vira antes, porém havia gente de variadas idades no salão — até mesmo da idade dela; no entanto, em seu estado emocional atual, não conseguiu se empolgar com aquilo. Apenas foi comendo lentamente, lamentando sua perda. Ela permaneceu no salão mesmo depois de todos terem saído, sozinha, apenas a parca luz do dia nublado entrando pelas janelas para iluminar o salão. Encarava a parede, tentando aceitar os fatos; simplesmente não conseguia. Sentia que estaria traindo sua mãe se o fizesse; então, como ficaria? Mesmo se arranjasse um jeito de fugir, ainda havia os... efeitos colaterais mencionados. Catarina não saberia lidar com nada do tipo sozinha. Apenas suspirou e desistiu, afundando na cadeira; então, ouviu as portas duplas serem abertas e fechadas cuidadosamente e ergueu os olhos. Havia uma garota andando silenciosamente pela sala escura, em direção ao piano. Catarina manteve-se em silêncio, apesar de sentir-se um pouco mal por estar espiando alguém. Lola abriu a porta de madeira da casa, olhando ao redor cuidadosamente enquanto segurava seu facão. Aparentemente estavam na razoavelmente grande sala de estar; havia um tapete enrolado escorado contra a parede e alguns móveis estavam cobertos por lençóis empoeirados. Ela suspirou em alívio e virou o rosto para dizer algo para Helena, porém não teve chance. — Ora, parece que duas bonequinhas vieram pro nosso chá — era uma voz cantarolada e melosa; provinha detrás delas, da cozinha. Helena automaticamente ergueu a espingarda e virou-se, uma mecha de cabelo negro caindo em seu rosto; Lola juntou-se a ela lentamente, observando o homem sentado à mesa da cozinha com receio; havia uma boneca de pano na borda da mesa, as pernas desengonçadas pendendo no ar. — Desculpe, senhor, nós achamos que a casa estava vazia... Vamos só, ah, sair — disse Lola, praticamente pisando em ovos. Olhou para a colega de canto de olho, sentindo certo ódio; é, olhos de águia de fato. Idiota. O anfitrião sorriu e levantou-se da cadeira com elegância, endireitando seu terno velho e pegando o revólver da mesa e apontando para Lola como se não fosse nada demais. Fez beicinho. — Mas já? A festa acabou de começar, queridinhas. Então apontou para algum lugar atrás delas com o queixo. A loura virou a cabeça com cuidado para olhar, vendo outra boneca sentada no alto do corrimão da escada a qual levava ao segundo andar, extremamente próxima de Lola. — Seria uma pena. Lady Bolacha, Lady Biscoito e eu estávamos apenas esperando por alguém... A escrota da boneca caiu do alto do corrimão, jogando-se à morte no piso de madeira da sala. — O quê? Foi você? Como você ousa? Nós te acolhemos aqui com todo o respeito... — berrava o homem, o rosto avermelhado. Apontava a arma na direção de Lola com violência. Helena não mexeu um músculo sequer, fazendo a outra xingá-la mentalmente. Por que ela não puxa o gatilho logo? — Vá ajudar Lady Bolacha! Agora, por gentileza, senhorita! Droga, ele realmente estava bravo. Lola embainhou o facão, ergueu as mãos no ar e começou a andar vagarosamente até a boneca, a qual estava a apenas uns três passos de distância; agachou-se, esticando a mão para pegar Lady Bolacha. Ela não viu, porém o homem sorriu largamente. Helena, entretanto, viu. Também notara as manchas de sangue na camisa branca dele. Ela achava que aquele sorriso significava a morte da companheira, no entanto, não tinha certeza. Interferir ou não? Então ele estabilizou a mão que segurava o revólver, o sorriso assustador alargando-se. Helena finalmente gritou por Lola, porém não ia dar tempo. Correu até ela e agarrou a gola de sua camiseta, puxando-a com força no momento exato do disparo. Seus ouvidos arderam tanto com o barulho do revólver sendo disparado quanto com o do grito de Lola enquanto Helena a puxava contra si, titubeando um pouco e dando alguns passos para trás enquanto a colega se debatia contra seu peito. Olhou para o inimigo e deixou o dedo pesar no gatilho sem esperar mais um segundo, instantaneamente arrependendo-se ao ouvir o corpo cair com um baque abafado nos ladrilhos da cozinha. Ela tinha o homem na sua mira desde cedo, porém nem pensara em disparar enquanto houvesse a possibilidade de todos saírem com vida de lá; mesmo tendo sido obrigada, sentia a culpa crescer aos poucos dentro de si, como um parasita. Ofegante, baixou a espingarda e olhou para Lola, ainda segurando-a junto de si. — Tudo bem? Não houve resposta. Lola parou de debater-se, olhando para baixo enquanto continha alguns gemidos de dor. Helena seguiu seu olhar, suspirando pesadamente ao notar a panturrilha da outra, ou melhor, a quantidade aberrante de sangue fluindo por ela. wattpad bolacha ou biscoito |
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Lady Bolacha & Lady Biscoito ahuehuehueuhehuehue |
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Najarageral a dit : bons nomes de boneca recomendo |
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Vikavilewell a dit : Kkkjj ótimos nomes para bonecas :'P |
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no primeiro capítulo, helena tá falando da história de catarina, é isso msm? |
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Najarageral a dit : eu ia fazer uma piada muito horrível mas aah melhor nao kkk Thuzi a dit : sim, ela tá contando :B em todos eles, na verdade, ela ta contando só que o tempo não bate com as outras coisas que tão rolando uuh pode parecer meio confuso, mas acho que tá de boa |
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ah livre para dicas? se sim, funda o prólogo I com o II sendo separados, perde um pouco de nexo e o leitor fica confuso. ;-) |