Ela já não agüenta mais. Já disse tudo o que aconteceu, todos os fatos sem pular nada ou deixar de falar. Sua perna direita treme diante da sala fria em sua volta.

– Então Anna, nos diga novamente quando que isso tudo começou.
– EU JÁ TE DISSE! – Grita ela – Foi a algumas semanas atrás.
– Mas o que aconteceu, o que a deixou tão assustada?
– Primeiro foram os barulhos e ruídos... Então... – Sua voz rouca falha.
– Continue senhorita Rothfuss – Diz o policial do outro lado da mesa.
– Então numa noite... Estava escuro, mais sei que ele estava la – O medo estampa seu rosto – Ele estava la, parado no escuro me observando.
– Mas ele não fez contado físico, certo?
– Não, mais... – Seus olhos refletem o medo
– Mas o que? – Pergunta o policia.

Sua respiração aumenta, sua voz não sai. Ela lembra dos momentos, os mais assustadores da sua vida.
– Uma noite, a porta estava aberta... – Ela não consegue segurar o choro, sua voz fica rouba e ofegante. – Ela estava totalmente aberta e ele... ele estava la... dentro do meu quarto, me olhando dormir... e...
– Calma, respire. Tudo isso já passou, não precisa mais ter medo – Diz o policial tentando acalma-la.
– Ele estava perto de mim... – Lagrimas de medo escorrem pelo seu rosto, ela tinha que falar mais não conseguia. – Ele estava sem camisa e com o zíper da calça aberto, me olhando pronto para atacar!

Não era um belo dia para mudanças. A chuva escorria pela janela do carro como se fossem lagrimas de anjos. Ela gostava de anjos, mesmo não acreditando que existam.
Sua família é muito religiosa, acreditam que se não seguirem oque esta escrito na bíblia iram todos para o inferno, mas Chanel acha tudo isso uma bobagem.
– Esta tudo bem filha? – Pergunta seu pai, enquanto dirige o carro atento.
Chanel esta com a cabeça encostada na janela, observando as gotas de águas escorrendo lentamente ate sumirem de sua vista, pensando no passado, em seus amigos que deixou para vim para sua nova casa, onde vai passar o verão e estudar na faculdade próxima.

A viajem foi longa, 3 horas ao certo. A chuva deu uma trégua, e parece que logo o sol vai sair de trás das nuvens acinzentadas.
– Oque achou da casa filha? – Pergunta seu pai enquanto abria o porta malas e começa a tirar as caixas de mudança.
– Hum... Pelo menos não parece ser assombrada. – Diz ela com uma voz sarcástica.
A casa é simples, com dois andares e uma pequena varanda na frente com um toque rústico. Uma grande janela na frente, e no lado esquerdo a porta principal, e entre elas o numero da casa... 652.
A casa é semi-mobiliada, os moveis são simples, porem, novos e bonitos. A casa toda tem um papel de parede marrom acinzentado e um teto branco. Uma pequena parede divide a sala com a cozinha, e no meio da cozinha um balcão branco com um vaso com flores artificiais.
– Agradável – Diz seu pai atrás dela, carregando as caixas.
– Da pro gasto... – Responde Chanel, indo em direção as escadas.

No segundo andar o papel de parede marrom acinzentado continua. Um corredor se estende, um pouco escuro, mais não como os de filmes de terror. Seu quarto fica no fim do corredor, em frente ao banheiro.
No quarto a cena é outra. Um papel de parede de pássaros estampa a parece esquerda, pássaros brancos e um fundo verde escuro, não aquele verde pântano um verde mais acinzentado. As outras paredes são da mesma cor, aquele verde acinzentado. O quarto é bem iluminado. Um aquecedor antigo posicionado debaixo da janela a chama atenção. Ela nunca tinha visto um daquele modelo, apenas em filmes.

Já esta tarde, Chanel e seu pai já tinham terminado de tirar as coisas de dentro da caixa. Sentados no sofá tomando uma xícara de chá, os dois conversam. Por volta das 9:30, seu pai volta para casa. Chanel arruma algumas coisas e decide ir tomar um banho.
Saiu do banho, colocou seu pijama, o pijama que seu ex-namorado a deu de presente. Sentada no sofá, respondia suas mensagens do celular. Concentrado, respondia cada um atenciosamente, quando alguém bate em sua porta.
Eram 10:23 da noite. Quem esta batendo na porta nessa hora. Seu pai? Um amigo? Um vizinho? Talvez um desconhecido? Ou um assassino pronto para cortar sua garganta com uma faca... Calça sua pantufa e abre a porta com medo mais curiosa.
– Ola, Chanel...

Era uma moça, parada bem em frente a porta, segurava algo... uma caixa, uma pequena caixa embrulhada com um laço vermelho.
– Meu nome é Olivia, eu moro aqui na frente, e...
– Como sabe o meu nome? – Interrompe Chanel, apreensiva.
– Bem, eu escutei seu pai te chamando – Ela demonstra um sorriso, um lindo sorriso.
– Você estava nos observando?
– Sim, a maioria dos vizinhos fazem isso, né? – Ri ela enquanto entregava a caixa – É pra você, um presente de boas vindas.
– Obrigado... – Diz Chanel enquanto pegava a caixa com as duas mãos.
Um silencio toma conta do lugar, as duas jovens apenas se olham, um tipo de olhar diferente.
– Bem, acho melhor eu ir. – Fala Olivia, percebendo que não chegou numa boa hora – Até mais vizinha, e seja bem vinda ao bairro. – Diz ela, descendo a pequena escada da varanda, com um sorriso, aquele que mexeu com Chanel.

Eram 9:33 da manhã, quando Chanel acordou naquela manhã ensolarada. Tinha passado a primeira noite na nova casa. Fazia o café quando viu a pequena caixa encima da mesa. O presente que tinha ganhado de Olivia.
Dentro da caixa, embrulhando em pedaços de jornais rasgados, um pequeno pássaro de porcelana. Era um pássaro amarelo com detalhes pretos.

A tarde, por volta das 17:45, quando voltava do mercado que ficava a algumas quadras de de sua casa. Avistou Olivia no quintal, que cuidava das flores de sua casa.
– Oi vizinha! – Diz Olivia, limpando suas mãos sujas de terra. – Então gostou do presente?
– Oi... Haaaa, adorei – Chanel demonstra um sorriso sincero.
– Que bom, escolhi com carinho.
Chanel sorri, ela não é muito social, sempre teve dificuldade de conversar ou fazer amizade com novas pessoas.
– Mais tarde eu passo até na sua casa, pra talvez tomar um chá.
– Bem... Não gosto de chá, mas tenho café.
– Então pode ser café – Oliva sorri, aquele mesmo sorriso que mexeu de alguma forma Chanel – Pode ser por volta das 20:15,é que tenho que fazer umas coisas antes.
– Sim, tudo bem! – Chanel começa a caminhar, ainda pensando naquele sorriso.
– Há, já estava e esquecendo, provavelmente seu cachorro vez a festa dentro de sua casa. Escutei barulhos de arranhões e umas batidas.
Aquilo vez Chanel paralisar. Um choque em seu peito, que a deixou parada ali mesmo. Ela não sábio do que Olivia estava dizendo, pois, Chanel não tinha um cachorro de estimação, na verdade não tinha nenhum animal de estimação.

Abriu a porta, suas mãos tremiam, seu corpo suava frio. Estava com medo, um medo que fazia sua barriga doer.
Entrou e olhou para os lados, não via nada até o momento. Seu corpo tremia mais a cada segundo, ela estava apavorada por dentro. Na cozinha, algo chama sua atenção. A gaveta do armário estava aberta, a gaveta onde Chanel guarda as facas e talheres, não lembra de tela deixado aberta e muito menos de ter usado uma faca logo de manhã.
Mais uma olhada pela cozinha e percebe que a janela dos juntos esta aberta. O vento faz a cortina se mover, parando num instante quando é chegada. A casa fica num silencio, apenas os sons externos chegam em seus ouvidos, carros, latidas e barulhos de construções.
Chanel não vê nada de diferente apesar da gaveta aberta. Nada de barulhos ou coisas estranhas, nada de cachorro ou outro tipo de coisa. Apenas ela e o silencio da casa.

Já esta de noite. Chanel já tinha tomado seu banho, e preparava alguns docinhos para comer junto a Olivia. Ela não sabe cozinhar muito bem, mas aprendeu um pouco com sua mãe antes dela ser diagnosticada com câncer, e seis meses depois ter falecido. Aquilo deixou ela acabada, a perda de uma das pessoas que ela mais amava e admirava, e fui ai que ela parou de acreditar sem Deus...
Ela tirava os biscoitos do forno, já prontos para serem devorados quando o celular toca. Uma mensagem de numero desconhecido. Não era uma mensagem normal de amigos ou de promoções da operadora. Chanel não se movia, parecia que sua mente estava vazia, olhando para o vazio, lembrando do passado, no terror e no medo que ela tinha sofrido...
“Olha pequena maça”, dizia a mensagem. Aquilo fez ela se desesperar, pois só uma pessoa a chamava daquele apelido estranho, a mesma pessoa que transformou sua vida e um pesadelo, fugindo e se escondendo anos após anos para tentar esquecer. Ela tinha certeza que quem a tinha mandado aquela mensagem era sem dúvida alguma Zippy, seu ex-namorado....

Chanel esta sentada no sofá, com as pernas cruzadas segurando uma xícara de café, olhando para o vazio enquanto Olivia fala. Ela não sabe do que ela tanto fala, pois seu foco é outro, a mensagem que Zippy a mandou.

A TV esta ligada, e logo Olivia para, ficando em silencio para prestar atenção no noticiário que passava. Chanel então acorda de seus pensamentos para ver o que foi que fez Olivia calar a boca.
Era um noticiário sobre um assassinato, e logo Chanel se ligou... Era sobre os assassinatos da casa 511 da rua 4, que foi cena de vários assassinatos, inclusive um a 18 dias atrás.

"Após um telefonema de um fazendeiro local que encontrou uma adolescentes de 17 anos, ferida e em estado de choque , a policia foi informada e logo descobriu que isso tudo fazia parte de um novo assassinato. Esse caso tem ligação com o assassinato que aconteceu há 18 dia, onde um jovem foi brutalmente assassinado dentro de sua própria casa .O mais novo assassinato ainda esta sendo investigado. Um dos corpos é do pai do jovem morto, que esta sendo investigado junto dos os outros dois corpos encontrados. A adolescentes encontrada possuía alguns ferimentos, mas passa bem e logo de amanhã vai dar seu depoimento. As autoridades continuam investigando, e nenhum culpado foi encontrado... Em breve trazemos mais informações. "

–Nossa que triste – Diz Olivia, mudando de canal – E pensar que isso aconteceu no bairro próximo.
– Pois é...
Chanel ainda estava distante, com medo, perturbada.
– E ainda o pior é que não acharam o responsável disso tudo! – Fala Olivia indignada – Ate parece que a policia ou os detetives não estão ligando para esses casos. E a qualquer momento outra pessoa pode morrer!!!
Chanel da de ombros, apenas olha para o chão, evitando olhar para seu celular ou para qualquer outro lugar.
– Espera ai... – Olivia a olha, descobrindo que tem algo de errado com Chanel. – Você esta bem?
– Que? Eu? Sim estou bem.
– Não mente pra mim... Eu sei quando as pessoas estão mentindo, e da pra ver na sua cara que você não esta bem – Olivia se levanta e se senta perto de Chanel, que agora abraçava suas pernas. – Pode falar, vai se sentir melhor daí, confie em mim...
– É que... Uma mensagem, recebi uma mensagem que tenho certeza que é do meu ex-namorado.
– Mais o que tava escrita nela que a deixou tão apavorada?
– Nada de mais, só que...
– Tem medo dele?! – Fala Olivia.
Chanel a olha, um olhar de medo. Ela sabia que era bom ter Oliva no seu lado nesse momento.
– Mais porque tem tanto medo dele, ele fez algo com você?
– Foi a dois anos, numa festa... Nos e um grupo de amigos resolvemos brincar de verdade ou desafio. Então fui desafiada a beijar minha amiga Eva... – Lagrimas escorrem pelo seu rosto – Então Zippy viu... Ele me puxou para fora da festa e la brigamos, então me agrediu.... Dando um soco no meu rosto, e isso era só o começo... Ele começou a me perseguir e falava que ia me atacar, tudo isso após nos terminar. Então eu me mudei junto com meus pais, só foi uma questão de tempo ate ele me achar e tudo isso começar tudo de novo. Então minha mãe morreu e meu pai quis se mudar novamente, mas eu já tava na idade de fazer uma faculdade e então eu vi parar aqui.
– Nossa, que babaca preconceituoso e machista ele. Você deveria cortar as bolas dele com uma faca. – Diz Olivia tirando um sorriso do rosto de Chanel, um belo sorriso. – Mais não precisa se preocupar, pois nem sabemos se é ele de verdade.
– Sim... É que depois de eu me mudei pra cá, as coisas estão agindo estranhas.
– Que tipo de coisas? – Pergunta Olivia que se levanta e vai até a cozinha pegar mais uma xícara de café.
– Sei lá... Essa casa me da medo. Tipo quando eu estou sozinha...
– Nossa, eu também teria medo depois que aconteceu aquilo com a menina.
– Que? – Chanel se assusta, pois não sabe sobre o que Olivia estava dizendo.
– Pelo jeito você não sabe oque aconteceu aqui antes de você se mudar, neh? – Olivia senta novamente no lado de Chanel, agora com a xícara de café cheia. – Bem... Uma garota morava aqui, e numa noite um homem entrou por aquela porta. – Olivia aponta para a porta dos fundos da casa. – Então subiu ate o quarto da garota e do nada...
Uma batida na porta a interrompe. As duas ficam em silencio que é quebrado com outra batida ainda mais forte.
– Você esta esperando mais alguém? – pergunta Olivia, enquanto Chanel se levanta para abrir a porta.
Chanel andava em direção a porta, devagar com os pés nus no piso gelado. Girou a maçaneta e quando o viu seu corpo morreu...

– Olha Chanel... Minha pequena maça.

Em Breve